Beto mãos de tesoura

Beto mãos de tesoura
CHEGA DE RICHA COM A EDUCAÇÃO...

sábado, 27 de agosto de 2011

"Uma aula de Ciência Política" - post do professor Antonio Ozaí que nos visitou hoje



Neste sábado, fui à reitoria da UEM ocupada pelos acadêmicos desde o dia 25 de agosto de 2011.[1] Na parte externa do prédio, vários jovens sentados participavam de um curso; alguns brincavam de equilibristas andando numa corda suspensa entre duas árvores; outros conversavam em pequenos grupos; alguns dormiam em colchões improvisados e havia várias barracas de acampar.
Fui convidado a entrar. O acesso foi pela porta lateral da sala utilizada geralmente para as reuniões do COU (Conselho Universitário), órgão máximo da universidade, e outros eventos oficiais. O local estava ocupado por jovens entretidos com seus notebooks e netbooks (observei, inclusive, pessoas a trabalhar em projetos; pareceram-me futuras arquitetas); outros assistiam a um filme. Meus cicerones mostraram as demais dependências: colchões espalhados, pessoas a dormir, a comissão da alimentação a trabalhar na cozinha, os membros da comissão de comunicação a preparar textos e divulgar o movimento pela rede, a comissão de política a se reunir.
Conheci o prédio em outras ocasiões e, claro, o que vi contrastava com o funcionamento tipicamente burocrático de um dia de trabalho normal. Recordei, então, que a mais alta autoridade da universidade, em entrevista à rádio local, caracterizou a ocupação da reitoria como um “ato de vandalismo”.[2] É lamentável que a autoridade lance mão de um argumento batido e recorrente. Este tipo discurso fortalece estereótipos e corroboram com o preconceito contra os estudantes. A mídia local reforça a linguagem pejorativa – veja, por exemplo, a imagem de capa do jornal (abaixo); não é uma escolha inocente, como também não é ingênua a linguagem utilizada. Em política, as palavras e as imagens expressam posições de poder e fazem parte do conflito.


Vandalismo é uma expressão derivada de Vândalo, originalmente o povo de uma tribo germânica que desafiou o Império Romano e contribuiu para a sua derrocada. Aliás, os romanos daquela época se consideravam civilizados e denominam bárbaros os povos que ousaram desafiar o Império. Antes dos romanos, os gregos antigos já usavam o termo para os povos que não falavam a língua grega. De qualquer forma, e para além das disputas políticas semânticas, o que vi no prédio da reitoria da UEM não confirma a acusação pejorativa de vandalismo. Os estudantes organizam-se em comissões, praticam a democracia direta – a assembléia estudantil é o órgão deliberativo – e demonstram cuidado e preocupação com a preservação do que bem público.
Tive a oportunidade de acompanhar a assembléia realizada neste sábado. Nesta, foi discutido e aprovado os encaminhamentos: a ida a Curitiba para negociar, a escolha dos representantes, etc. A discussão, a despeito dos esforços dos que coordenavam, estendia-se em detalhes e rediscussões do que já parecia decidido. Não obstante, erros são próprios dos que agem, dos que ousam desafiar as estruturas de poder e a si mesmos. Uma reflexão crítica no momento oportuno poderá contribuir para a análise do movimento, seus erros e acertos. Todos os movimentos cometem equívocos. Não obstante, para além dos aspectos criticáveis, o importante é a atitude dos acadêmicos.
Ao contrário dos muitos que se acomodam em seus mundinhos, dos que se adaptam por mero interesse egoístico, estes jovens atuam em defesa da universidade pública, por melhorias para a comunidade acadêmica. Num tempo em que o individualismo campeia nas esferas do campus é salutar ver jovens que ousam lutar por demandas coletivas. Ouvi e observei atentamente. Tenho orgulho deles, especialmente dos ex-alunos. Foi um tarde na qual o educador foi educado; foi uma aula prática de Ciência Política!

[2] “Reitor da Universidade Estadual de Maringá diz que ocupação da reitoria foi vandalismo e entrega pauta de demandas da UEM para governador em exercício Flávio Arns”. Por Luciana Peña, 26/8/2011. Clique para ouvir a reportagem:http://www.cbnmaringa.com.br/page/noticias_detalhe.asp?cod=206715
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Aluno e divulgador da obra de Maurício Tragtenberg, figura estimada por aqueles que foram seus alunos e também os que não foram, quem procurar pelo nome de Antônio Ozaí na internet, não encontrará apenas seu curriculum do CNPq. Não é o tipo de professor que se contenta em falar apenas em sala de aula. Está sempre escrevendo, colocando sua inteligência a serviço de todos que costumam ler seus textos, em seu blog.
Agradecemos a visita à ocupação e o post. 
Quando em geral os professores estão se limitando a observar pela internet e ficar em cima do muro, quando não simplesmente criticar os alunos por não estarem a essa hora em casa lendo cada qual seu livro para alcançar seu sucesso acadêmico, Ozaí destoa: veio conhecer o movimento e esperamos que venha mais vezes. Salve, professor!!!

2 comentários:

  1. "alguns brincavam de equilibristas andando numa corda suspensa entre duas árvores"
    não brincavam, são alunos do curso de artes cênicas. Eles estavam estudando, ou melhor, aprendendo.

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  2. TEXTO SOBRE A OCUPAÇÃO DA REITORIA, COM INSPIRAÇÃO NO TEXTO DO OZAÍ.


    http://wp.me/ptYG7-3y

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